Fomos inseridos em um Universo que já existia antes de nós e que continuará existindo após a nossa morte. Não sabemos o porquê de estarmos aqui, e mesmo que tenhamos alguma ideia sobre esse assunto, certamente a resposta não será satisfatória. Sempre haverá um “porém” que não conseguiremos explicar sem antes cair em contradições.
Já li, algumas vezes, que a realidade objetiva que nos cerca está eternamente oculta pelo véu sensorial de nossas percepções. Talvez seja correto afirmar que temos apenas uma vaga ideia de como são as coisas. Tudo o que vemos e sentimos é interpretado por nós, e cada interpretação pode estar atrelada às nossas crenças pessoais, temperadas com nossas vivências, sem contar que, dependendo da emoção do momento, seja ela alegria ou tristeza, cada instante percebido ganha infinitas conotações. Então, dentro desse contexto, me pergunto: o que é a Verdade?
Pode ser que, para alguns, a Verdade não exista. Outros ainda podem afirmar que cada um tem a sua. Mas no fim, ao menos para mim, a Verdade é o que é. Ela nunca foi e nunca será. Ela é. Nesse meu ponto de vista, a Verdade não é uma crença, mas sim aquilo que é. Ela não se importa com o que acreditamos ou pensamos acreditar, e está pouco se lixando se cremos ou não nela. No entanto, por mais que a Verdade seja perene e única, além de inexorável, ela é vista por meio de nossos olhos, e percebida por meio de nosso entendimento. Nós a interpretamos e pensamos sobre ela, e então tiramos conclusões.
Creio que nosso entendimento é falho e limitado, por isso acho que nunca teremos uma definição satisfatória sobre o que é Verdade. Talvez não haja uma resposta definitiva para isso, mas gosto de pensar que a Verdade nos convida, constantemente, a humildade, a prudência, e a honestidade intelectuais, além de um profundo desenvolvimento de pensamento crítico-reflexivo, que considere contínuos questionamentos; perguntas que levam a novas perguntas e assim por diante.
Mas, olhando desse modo, a Verdade, para muitos, pode se tornar feia, chata e amarga.
Pode ser que as criaturas humanas vejam o mundo como seu palco pessoal, onde cada indivíduo nasceu para brilhar. Presumo que alguns sujeitos creem que a realidade deva funcionar exatamente do jeito que eles querem. Entretanto, imaginar é uma coisa; acontecer é outra. Somos tão envolvidos com nossas ilusões que ignoramos a comum aleatoriedade das coisas, e achamos que podemos controlar as incertezas da vida. Compreendo que queremos ter segurança; queremos saber para onde ir. É doce imaginar que somos “o protagonista do filme”. Talvez todo ser humano tenha o seu punhado de egocentrismo, e isto pode nos levar a um caminho de ilusões – vaidade, como diria o sábio.
Então me volto às religiões. Não sou estudioso delas, mas acredito que muitas buscam dar respostas sobre o porquê de estarmos aqui. Além disso, ao que parece, muitas oferecem consolo no meio deste mundo incerto em que viemos parar. Ora, não vejo o consolo na incerteza como algo errado, mas o alento dado com exagero pode ser usado para alienar as pobres almas, que estão cansadas de vagar no desconhecido. Isso pode privá-las de se aproximar da Verdade, levando-as (ou prendendo-as) a crenças questionáveis.
Como cristão reconheço que meu descanso está em Cristo, mas não fecho meus olhos para a incerteza e para as dores da vida. Porém, tenho a impressão de que alguns insistem em dizer que a vida é um mar de flores, e insistem em levar os fiéis a viverem em um sonho irreal e anestesiante.
Pode ser que pessoas que compram e aceitam um discurso religioso exageradamente acalentador não gostem mesmo da Verdade. Talvez isso não seja tão diferente para aqueles que não são religiosos, mas que possuem outros tipos de crenças. A Verdade dói, e pode não ser tão agradável. É mais confortável mergulhar num mundo de ilusões e mentiras, como um metaverso, que será repleto de alegrias e prazeres, trazendo e mostrando exatamente aquilo que a pessoa deseja. Mas, no fim, o metaverso, com suas doces falsidades, virará poeira, e o que restará é a Verdade, sempre ignorada.
A Verdade não está submissa a ninguém. Pensar sobre ela é considerar as dores e alegrias de nossa existência, considerando que tudo pode acontecer, seja isso bom, seja isso ruim. Por mais que se deseje aquilo que é bom e alegre, devemos encarar a tristeza e a dor. São nos momentos difíceis que refletimos sobre a vida e sobre nossa existência. Apenas os tolos estão perpetuamente alegres, alienados e alheios à vida. A alegria é para desfrutar em seu momento, e a tristeza para ser pensada em sua hora. Nada de mais, nada de menos. Apenas os estúpidos querem curtir a vida sem responsabilidade – e é necessário dizer que a falta de responsabilidade leva à morte, isso mais cedo, ou mais tarde.
É penoso pensar a Verdade, e pode ser amargo entender que a vida nunca irá se curvar aos nossos desejos. Porém, entender e aceitar isso é um caminho que pode nos levar a paz e a uma compreensão melhor sobre a realidade que nos cerca. A Verdade é um tesouro que deve ser procurado e buscado com zeloso afinco por aqueles que realmente desejam viver.