4 – Fotografias

Creio que os momentos existem para que se formem memórias, para que estas sejam lembradas em algum ponto do futuro. Os momentos são únicos e impossíveis de serem repetidos, mesmo que se volte no tempo para tentar revivê-los. Os instantes só podem ser revisitados com a memória, que nos traz a reflexão de onde viemos, de onde estamos, e para onde iremos.

Certidões, cartas e outros tipos de documentos, quando pessoais, podem nos trazer vislumbres de quem nós fomos, ou sobre como foi a vida de outra pessoa. Quando aliados às fotografias, dão mais peso à imagem.

Antigamente as fotografias precisavam ser reveladas e eram, geralmente, guardadas em álbuns. Quando se sentia saudade, podia-se abrir um álbum e revisitar aquele momento; quando alguém querido fazia visita, podia-se mostrar o álbum a essa pessoa, principalmente se ela participou da foto. Havia uma coisa pessoalmente íntima ali.

Hoje as fotografias são mais fáceis de serem feitas. Talvez isso gere uma banalização da foto e da memória, já que não as guardamos mais conosco; antes as entregamos a uma empresa. Compartilhar momentos fotográficos — reuniões familiares, casamentos, nascimentos, etc. — com amigos e familiares vale a pena. Mas devemos refletir se isso deve ser estendido para a internet. Devemos considerar se realmente vale a pena entregar todos os registros de nossas memórias afetivas para terceiros. Basta uma crise imprevista (e o mundo é cheio disso) para uma empresa de mídia social falir, sumindo com todas as fotografias que postamos. Mesmo os backups são frágeis. Os álbuns físicos continuam sendo uma boa alternativa para preservação da memória.

Por outro lado, e refletindo aqui, pode ser que as fotos, hoje em dia, tenham ganhado outra função além da preservação do instante: hoje elas também servem para mostrar o “tempo real” de alguém; apresentar a condição de saúde de um indivíduo, ou para iludir curiosos desconhecidos sobre o nosso momento atual. A “propaganda” que antes era feita em revistas e na televisão, hoje pode ser feita por qualquer pessoa que queira se vender na rede. Isso não por dinheiro, creio, mas mais por um status quo imaginário. A possibilidade de falar e de se apresentar para um mundo de gente estranha que, talvez, vá te dar atenção, mexe com nosso ego. E a busca por tal vaidade leva ao exagero e ao excesso, que é impulsionado pelo malfadado algoritmo, que entende que, quanto mais daquela tendência, melhor. Temos então o caminho do enjoo, da saturação, da loucura e, por fim, do Vazio insaciável.

De qualquer modo, não pretendo me estender muito no assunto. Só gostaria de pontuar aqui que é legal termos um álbum pessoal com nossas fotografias guardadas. Faz bem para alma lembrar e sentir saudade por meio de fotos genuinamente nossas.

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