“Vocês são o sal da terra. Mas se o sal perder o seu sabor, como restaurá-lo? Não servirá para nada, exceto para ser jogado fora e pisado pelos homens. Vocês são a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade construída sobre um monte. E, também, ninguém acende uma candeia e a coloca debaixo de uma vasilha. Ao contrário, coloca-a no lugar apropriado, e assim ilumina a todos os que estão na casa. Assim brilhe a luz de vocês diante dos homens, para que vejam as suas boas obras e glorifiquem ao Pai de vocês, que está nos céus”. Evangelho de Mateus, capítulo 5, versículos 13-16
“Portanto, quem ouve estas minhas palavras e as pratica é como um homem prudente que construiu a sua casa sobre a rocha. Caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e deram contra aquela casa, e ela não caiu, porque tinha seus alicerces na rocha. Mas quem ouve estas minhas palavras e não as pratica é como um insensato que construiu a sua casa sobre a areia. Caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e deram contra aquela casa, e ela caiu. E foi grande a sua queda”. Evangelho de Mateus, capítulo 7, versículos 24-27
“Sejam praticantes da palavra, e não apenas ouvintes, enganando-se a si mesmos”. Carta de Tiago, capítulo 1, versículo 22
O que entendemos como prática? Será que compreendemos como um conjunto de atitudes mecanicamente ritualísticas, que visam uma espécie de “prêmio” por bom comportamento? Ou será que percebemos isso como um conjunto de atitudes embasadas em profundas reflexões sobre aquilo que se ouviu, ou se leu, na Bíblia? Será que nossa prática da Palavra é apenas religiosa — no pior sentido do termo, acompanhando todas as suas hipocrisias —, ou será que nossa prática da Palavra é verdadeiramente religiosa, manifestando, assim, a nossa fé?
Existem muitas práticas religiosas estabelecidas pela humanidade, definindo regras de condutas e normas, e isso, muitas vezes, ao que parece, toma o lugar da Palavra. Mas acredito que a prática da Palavra transcende e vai muito além daquilo que o humano estabeleceu. Tiago diz que “a religião que Deus aceita como pura e imaculada é esta: cuidar dos órfãos e das viúvas em suas dificuldades e não se deixar corromper pelo mundo” (Tiago, 1.27). Será que isso significa dizer que Deus nos aceita por meio daquilo que fazemos? Acho que não. Paulo nos diz que somos salvos pela graça, por meio da fé, e não por meio de obras, para que ninguém conte vantagem (Efésios, 2. 8-9). No entanto, Tiago afirma: “De que adianta, meus irmãos, alguém dizer que tem fé, se não tem obras? Acaso a fé pode salvá-lo? Se um irmão ou irmã estiver necessitando de roupas e do alimento de cada dia e um de vocês lhe disser: ‘vá em paz, aqueça-se e alimente-se até satisfazer-se’, sem porém lhe dar nada, de que adianta isso? Assim também a fé, por si só, se não for acompanhada de obras, está morta”. O apóstolo ainda continua: “Mostre-me sua fé sem obras, e eu lhe mostrarei a minha fé pelas obras” (Tiago, 2. 14-18). As boas obras são a manifestação de nossa fé. Se falamos que cremos em Cristo, que nossas atitudes demonstrem isso. De nada adianta se chamar de cristão — dizer que é salvo pela graça —, mas ter comportamentos que não condizem com alguém que diz crer em Cristo.
Nossa fé deve se manifestar na prática. Se é só teoria, de nada serve. E essa prática não se dá em rituais e festividades religiosas, mas sim em ações de justiça, misericórdia e amor incondicional. E, por mais que a fé venha pelo ouvir a mensagem (Romanos, 10. 17), apenas ouvir a Palavra, acreditando que isso, por si só, já é suficiente, é um grande engano. “Quanto a você, filho do homem, seus compatriotas estão conversando sobre você junto aos muros e às portas das casas, dizendo uns aos outros: ‘venham ouvir a mensagem que veio da parte do SENHOR’. O meu povo vem a você, como costuma fazer, e se assenta para ouvir as suas palavras, mas não as põe em prática. Com a boca eles expressam devoção, mas o coração deles está ávido de ganhos injustos. De fato, para eles você não é nada mais que um cantor que entoa cânticos de amor com uma bela voz e que sabe tocar um instrumento, pois eles ouvem as suas palavras, mas não as põem em prática” (Ezequiel, 33. 30-32). Ainda sobre o ouvir e não praticar, mas fingir crer no Senhor, podemos dar uma olhada no que está escrito no profeta Amós: “Eu odeio e desprezo as suas festas religiosas; não suporto as suas assembleias solenes. Mesmo que vocês me tragam sacrifícios totalmente queimados e ofertas de cereal, isso não me agradará. Mesmo que me tragam as melhores ofertas de comunhão, não darei a menor atenção a elas. Afastem de mim o som das suas canções e a música das suas liras. Em vez disso, corra a retidão como um rio, a justiça como um ribeiro perene!” (Amós, 5. 21-24).
A nossa fé não se manifesta apenas em milagres, sejam eles grandes ou pequenos. Nossa fé se manifesta por meio das boas obras, que devem ser praticadas. Ora, as boas obras são o brilho da nossa fé em Cristo. E se dizemos que acreditamos em Cristo, então devemos aprender com Ele, que é “Pai para os órfãos e defensor das viúvas”, que “dá um lar aos solitários, liberta os presos para a prosperidade” (Salmo 68. 5-6). As boas obras são o brilho da lamparina, que provém de um coração cheio da Palavra de Deus. O coração só pode ser cheio desta bendita Palavra, se houver leitura e reflexão sobre Ela mesma. Como diz o salmista: “Como eu amo a tua lei! Medito nela o dia inteiro” (Salmo 119. 97). Portanto, não é uma leitura impensada, muito menos uma espécie de tarefa mecânica. É uma leitura que requer reflexão. E é essa reflexão, guiada pelo Espírito Santo, que preenche o nosso interior, e nos revela aquilo que não prestamos atenção; muda nossas atitudes e nos torna mais sensíveis para com nossos semelhantes, além de nos libertar de pensamentos massacrantes e hipócritas, nos trazendo para a vida verdadeira, onde a Palavra não é apenas uma teoria, mas, sim, uma prática.